Tendinopatia do Glúteo: Entenda a Dor Lateral do Quadril e Como Tratar
A dor na lateral do quadril é uma queixa extremamente comum, muitas vezes atribuída incorretamente à bursite trocantérica. No entanto, estudos recentes e evidências clínicas apontam para um culpado mais provável: a Tendinopatia do Glúteo (TG).
Se você sente dor ao caminhar, ao dormir ou ao levantar-se da cadeira, continue lendo para entender melhor essa condição e quais são os tratamentos mais eficazes.
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O que é a Tendinopatia do Glúteo?
A Tendinopatia do Glúteo é a principal causa local da dor na lateral do quadril, uma condição que afeta os tendões dos músculos glúteo médio e/ou glúteo mínimo, que se fixam no trocanter maior (a saliência óssea na lateral do quadril).
O termo Tendinopatia é usado para descrever a dor persistente e a disfunção do tendão relacionadas à sobrecarga mecânica. Antigamente, essa condição era mais conhecida como bursite trocantérica ou Síndrome da Dor Trocantérica Maior (SDTM).
É crucial entender que a patologia primária da TG é uma tendinopatia insercional não inflamatória. Embora a bursite trocantérica (inflamação da bursa) possa coexistir com a patologia do tendão, a bursite isolada é incomum.
A Tendinopatia do Glúteo é uma condição comum e pode ser um desafio de tratamento.
• Prevalência: A taxa de prevalência varia entre 2,9 e 4,2 por 1.000 pessoas.
• População de Risco: É muito mais comum em mulheres do que em homens (cerca de 2,4 a 4 vezes mais frequente).
• Idade: Ocorre mais frequentemente em pessoas com mais de 40 anos, com alta prevalência em mulheres pós-menopáusicas.
A TG impõe um fardo significativo, afetando negativamente a atividade física, a participação no trabalho e a qualidade de vida. Pessoas com TG podem ter níveis de incapacidade e qualidade de vida semelhantes àqueles com osteoartrite de quadril em estágio terminal.
Principais Sintomas:
Os sintomas comumente relatados por pessoas com tendinopatia do glúteo incluem:
1. Dor persistente na lateral do quadril: Dor especificamente sobre o trocanter maior (saliência óssea lateral do quadril), que às vezes pode irradiar pela lateral da coxa. Se a dor se estender abaixo do joelho, é recomendado explorar a contribuição da coluna lombar ou o envolvimento do músculo piriforme.
2. Dificuldade para dormir: Dor ao dormir ou ao deitar-se sobre o lado afetado e/ou o lado não afetado.
3. Dor com a carga (esforço): Dor que ocorre durante ou após atividades que carregam o tendão. Isso inclui ficar em pé, caminhar, correr, subir escadas, sentar com ou sem as pernas cruzadas e levantar-se da posição sentada.
Um início insidioso é o histórico mais comum (63% dos casos), seguido por trauma (20%) e aumento de carga (17%).
Causas e Fatores de Risco Modificáveis
A causa subjacente da TG é uma combinação de fatores mecânicos e sistêmicos, sendo o principal a sobrecarga compressiva do tendão.
Posições ou atividades que aumentam a compressão do tendão do glúteo contra o trocanter maior, especialmente quando realizadas repetidamente ou mantidas por muito tempo, devem ser evitadas:
• Adução do Quadril: É a posição que mais aumenta a compressão. Posturas como ficar em pé “pendurado em um quadril” (apoiando-se predominantemente em uma perna), cruzar as pernas ao sentar ou ficar em pé, ou sentar com os joelhos juntos.
• Dormir de Lado: Quando se dorme de lado, o tendão do glúteo fica comprimido contra a cama (lado de baixo) ou em adução (lado de cima).
Outros Fatores de Risco e Comorbidades
Alguns fatores não são causadores diretos, mas podem modular a condição e são modificáveis, sendo alvos importantes para o tratamento:
• Fraqueza Muscular: É comum a fraqueza dos músculos abdutores do quadril (glúteo médio e mínimo) e um controle reduzido do quadril, apresentando-se como aumento da adução funcional do quadril ao caminhar, subir escadas ou se levantar.
• Excesso de Peso/Obesidade: Estar com sobrepeso ou obeso é um fator de risco potencialmente modificável.
• Comorbidades: Dor lombar e osteoartrite do quadril (OA) são comorbidades comuns que devem ser avaliadas, pois podem contribuir para o problema. Pessoas com comorbidades podem não obter o mesmo nível de alívio da dor.
• Fatores Psicossociais: Níveis mais altos de dor podem estar associados a fatores psicológicos, como ansiedade e depressão.
Tipos de Tratamentos Conservadores (Fisioterapia)
A abordagem central para a Tendinopatia do Glúteo, suportada por evidências de alta qualidade, é o exercício combinado com a educação.
O tratamento de fisioterapia visa o manejo da carga, o fortalecimento progressivo e a reeducação do movimento.
1. Educação e Manejo da Carga
A educação é um componente essencial do tratamento. O objetivo é ajudar o paciente a entender a condição e a reduzir a exposição à compressão e à carga tênsil:
• Posturas a Evitar: Não ficar parado “pendurado em um quadril”, evitar cruzar as pernas ao sentar e levantar, e evitar deitar diretamente sobre o lado dolorido (usar travesseiros entre as pernas ou mudar para a posição supina ou um quarto de prona).
• Atividades a Evitar (a Curto Prazo): Longas caminhadas, especialmente em terrenos irregulares ou com cargas pesadas, e movimentos que envolvam adução descontrolada do quadril (como subir escadas ou sentar e levantar de forma inadequada).
• Movimento: Reeducação do movimento para evitar a adução excessiva do quadril (por exemplo, ao sentar e levantar, você deve sair da clínica conseguindo fazer isso sem adução do quadril).
2. Exercício Progressivo
O exercício deve ser gradualmente progressivo, visando restaurar a capacidade de carga do tendão, idealmente em posições de mínima adução/compressão.
1. Fase Inicial (Alívio da Dor): Recomenda-se o uso de exercícios isométricos (contração muscular sustentada) de baixa carga. Estes podem ser realizados em decúbito lateral (com o lado afetado para cima, mantendo o quadril em leve abdução com travesseiros) ou em pé.
2. Fase Intermediária (Fortalecimento): A progressão deve incluir exercícios de abdução de baixa velocidade e alta carga tênsil para promover a hipertrofia e melhorar a capacidade de carga do complexo musculo-tendíneo abdutor, evitando a compressão do tendão. O fortalecimento dos abdutores do quadril é fundamental.
3. Fase Funcional (Reeducação do Movimento): O foco deve ser em transferir os ganhos de força para tarefas dinâmicas diárias, trabalhando o controle do quadril e da pelve para minimizar ativamente a adução excessiva durante atividades como caminhar, sentar e levantar e subir escadas.
3. Outras Intervenções
Embora o exercício e a educação sejam o pilar do tratamento, outras terapias conservadoras são frequentemente utilizadas:
• Injeções de Corticosteroides (CSI): Embora forneçam alívio da dor no curto prazo (3 meses), seus efeitos a longo prazo são mínimos. Em 12 meses, não são superiores à abordagem de “esperar para ver”. Além disso, injeções de corticosteroides podem comprometer a saúde do tecido tendíneo e são frequentemente desaconselhadas devido à falta de benefícios a médio/longo prazo.
• Terapia por Ondas de Choque Extracorpórea (SWT): Pode ter um papel em casos refratários, oferecendo alívio da dor a curto e médio prazo, o que pode ajudar os pacientes a se exercitarem e melhorar sua qualidade de vida.
• Agulhamento Seco (Dry Needling): Foi demonstrado ser não inferior à injeção de corticosteroides no alívio da dor e função em 6 semanas, sugerindo que é provável que seja benéfico.
• Taping: A aplicação de fita elástica (taping) pode ajudar a melhorar a biomecânica da marcha e pode ter um benefício na dor, embora a magnitude do efeito possa ser negligenciável.
A evidência mais robusta sugere que o exercício combinado com a educação é o tratamento mais eficaz e custo-efetivo para a Tendinopatia do Glúteo a longo prazo.
Fontes:
Fearon AM (2025) Physiotherapy management of gluteal tendinopathy. Journal of Physiotherapy 71:81–90
Rheumatology Advances in Practice, 2024, 8(2), rkae022. https://doi.org/10.1093/rap/rkae022.



